sexta-feira, 4 de janeiro de 2008

Pólo Aquático

Dedicação à prova de água

"Procuramos compensar os adeptos por outras tristezas", diz o capitão
São salgueiristas até debaixo de água e o que resta do orgulho de um clube cujo difícil presente desportivo e financeiro está longe de honrar a sua história. O pólo aquático é hoje a face mais visível da famigerada alma do "velhinho Salgueiros". A provar isso mesmo está a conquista de 12 campeonatos consecutivos entre 1995 e 2006.


O ano que findou marcou o final da hegemonia na modalidade, com a perda do título para o Amadora. Contudo, acossado esse espírito de vitória, a equipa comandada agora por João Santos, após a saída do vitorioso treinador Nuno Mariani, volta a surgir determinada para recuperar o seu domínio. O percalço de 2007 parece não ter desviado do trilho das vitórias o conjunto encarnado, que já esta época conquistou a supertaça e conta por vitórias os jogos disputados no campeonato.

Em todo o caso, tantos troféus e honras não correspondem a prémios chorudos. Aqui, só a dedicação é profissional. Os atletas pagam as quotas ao clube e deslocam-se para os jogos em carros próprios. Já é muito positivo haver uma piscina disponível para treinar diariamente. Antes de se mudar em permanência para Campanhã, graças a um protocolo com a Câmara do Porto, o Salgueiros vagueava de "casa às costas" para treinar em concelhos longínquos, como Paredes ou Felgueiras.

Campeões de corpo e alma
Essa dedicação capaz de fazer face a todas as dificuldades é o que motiva os atletas a dar o máximo pelo desporto e a conciliarem-no da melhor forma com o emprego e com a família. "Muitos, sobretudo os mais velhos, fazem o sacrifício de se levantar por vezes às 6.00 da manhã para ir à piscina mais próxima treinar e assim complementar os treinos de conjunto", explica o treinador João Santos, numa opinião corroborada por Tiago Mota, en- genheiro de 31 anos, cujos afazeres profissionais no estrangeiro não o impedem de treinar duas horas diariamente, esteja onde estiver: "Procuro sempre uma piscina ou um ginásio para continuar a rotina de trabalho, mesmo quando estou longe da equipa. Ao longo do último ano, além dos estágios da selecção, treinei sozinho em Espanha, França, Bélgica, Alemanha e Rússia."

E é fruto precisamente desse esforço que surge a determinação em "ganhar tudo nesta época", conforme avança o guarda-redes Ricardo Tavares, 29 anos, que dos 13 campeonatos que disputou pela equipa sénior do Salgueiros só não venceu o último. O capitão de equipa confessa que "se ganhasse 500 euros não teria mais entrega à equipa" e salienta o papel dos adeptos que enchem as bancadas nos jogos em casa e nos jogos fora disputados perto do Porto. "O clube tem aquilo a que se chama alma e nós encarnamos isso. Procuramos deixar os adeptos orgulhosos e dentro da piscina compensá-los por outras tristezas.

"Conforme adianta o veterano José Veloso, que aos 39 anos ainda é convocado para a selecção nacional, a equipa não procura ser "um catalisador de outras frustrações desportivas do Salgueiros": "Fazemos somente parte de um grupo sólido que vai ficar na história do clube." E não há salgueirista que discorde.É graças a estes campeões, dedicados de corpo e alma ao desporto amador, que o orgulho de um clube histórico se mantém à tona da água.


SÉRGIO PIRES
In "DN"

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