Há mais de dois anos que Paulo Morais, ex-vice presidente da Câmara do Porto (CMP), entregou no Departamento de Investigação e Acção Penal do Ministério Público os documentos relativos ao negócio que opôs a empresa Metro do Porto e o Sport Comércio e Salgueiros e que redundou na compra, por parte da empresa pública, do antigo Estádio de Paranhos.
Disse então Paulo Morais que os contornos de todo o negócio eram estranhos, tendo a Metro pago dez vezes mais do que o mesmo terreno valia. Para que o negócio se concretizasse a Câmara terá aceite um pedido de informação prévia e Ricardo Figueiredo, então vereador do Urbanismo, terá homologado um parecer conjunto da CMP e da Direcção Regional do Ambiente e Ordenamento do Território. O mesmo parecer concordava com o pedido, o que segundo Paulo Morais era nulo por conflituar com o PDM.
Ainda segundo documentos a que o CM teve acesso, terá sido com base nos valores meramente indicativos que a Metro do Porto comprou os terrenos ao Salgueiros.
Os documentos mostram ainda que Paulo Morais tentou depois indeferir o pedido, tendo mesmo requerido um parecer jurídico que ia no mesmo sentido. O documento, de 18 páginas, foi ignorado e o negócio avançou.
SALGUEIROS SEM DINHEIRO
O negócio parecia promissor para o Salgueiros, mas a verdade é que o clube pouco ou nada terá recebido. O estádio foi vendido por oito milhões e 750 mil euros e desse dinheiro o clube só terá recebido cerca de três milhões. Quatro milhões foram para o sócio Almerindo Rodrigues – administrador da Rádio Popular (empresa comercial de electrodomésticos) – que comprou o terreno aos anteriores proprietários; 400 mil saldaram a dívida a um banco e 800 mil pagaram débitos à Segurança Social.
Almerindo Rodrigues, que havia adquirido o terreno por um milhão e duzentos mil euros, terá feito depois uma doação ao clube, mas ficou credor daquele na mesma quantia. E recebeu a sua parte directamente da Metro, embora fosse o comprador doador e não o proprietário.
O interesse da Metro do Porto, cujo presidente do conselho de administração era Valentim Loureiro, também foi contestado por Paulo Morais, já que para construir a estação no subsolo não seria necessário comprar o dito terreno.
PROBLEMAS COM A JUSTIÇA
José António Linhares era o presidente do Salgueiros à data destes últimos negócios. O dirigente desportivo deixou o Salgueiros numa posição aflitiva e respondeu depois na justiça por vários casos de fuga aos impostos.
DENUNCIOU PROMISCUIDADE
Paulo Morais era vice-presidente da Câmara Municipal do Porto e responsável pelo pelouro do Urbanismo. O então vereador abandonou a autarquia em 2005, tendo denunciado ligações promíscuas entre os empreiteiros e os autarcas de todo o País. Começou por ser ouvido no Ministério Público do Porto no Verão desse mesmo ano e depois foi ouvido no DCIAP em Lisboa.
NUNO CARDOSO LIGADO À VENDA
Nuno Cardoso, ex-presidente da Câmara do Porto, e Carlos Abreu, presidente da comissão administrativa do Salgueiros, tornaram-se no ano passado sócios de uma sociedade imobiliária. A Predial III preparava-se então para comercializar o terreno que foi cedido pela Câmara ao clube de Paranhos e que deveria ter servido para construir o estádio.
Aquele foi comprado em hasta pública pelos sócios de Nuno Cardoso, por três milhões de euros, depois de o primeiro licitador, que oferecera 15 milhões, ter desaparecido. Os terrenos tinham sido doados em 1997 pelo executivo autárquico que tinha Fernando Gomes como presidente e Nuno Cardoso como vice e responsável pelo Urbanismo.
CRONOLOGIA
MAIO 1995
José António Linhares assume a presidência do Sport Comércio e Salgueiros, clube do qual liderou os destinos durante mais de 17 anos.
1997
Câmara do Porto doa ao Salgueiros os terrenos de Arca d’Água para a construção do estádio do clube. Fernando Gomes era o presidente da autarquia.
JANEIRO 2003
O Estádio Vidal Pinheiro, onde o Salgueiros jogou durante dezenas de anos, foi vendido à empresa Metro do Porto por oito milhões e 750 mil euros.
12/07/04
A Liga de Clubes determina a despromoção do Salgueiros à II Divisão B. O clube portuense reclama justiça e apresenta um recurso.
01/11/04
O destituído presidente do SC Salgueiros fecha-se nas instalações do clube para impedir o controlo da nova comissão administrativa.
23/11/04
Linhares é processado por uma agência de viagens por ter assumido em 2000 uma dívida de 74 820 euros das deslocações da equipa.
09/12/04
Toma posse a Comissão Administrativa do SC Salgueiros encabeçada por Jorge Viana, que sucede a José António Linhares.
10/01/06
Os terrenos de Arca d’água são vendidos em leilão por três milhões de euros à empresa de Nuno Cardoso e Carlos Abreu, ex-presidente da direcção e da Comissão Administrativa do clube
22/03/06
O ex-presidente do Salgueiros José António Linhares é condenado a 12 meses de prisão, ficando a pena suspensa por cinco anos. O antigo dirigente foi considerado culpado do crime de abuso de confiança continuado à Segurança.
NOTAS
SEM FUTEBOL PROFISSIONAL
Depois de descer à II Divisão, o Salgueiros deixa de ter futebol profissional e entra em completa falência.
SEM DINHEIRO E PATRIMÓNIO
Os últimos anos foram desastrosos para o Salgueiros. Sem dinheiro e sem património tornou-se uma sombra do clube que chegou a ir à Europa.
MUITOS PROCESSOS JUDICIAIS
José António Linhares respondeu em vários processos no Tribunal de S. João Novo, no Porto. Foi condenado.
VALENTIM SUSPENSO DA METRO
A PJ investigou a Metro do Porto e a juíza do TIC de Gondomar suspendeu Valentim da presidência. O processo acabou arquivado.
In:Correio da Manhã
1 comentário:
Tanta gente a querer por a mão no pouco que o Salgueiros tem/tinha...
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